terça-feira, 21 de julho de 2009

William Bonner sabe que comandar o Jornal Nacional, como editor-chefe e apresentador, é tarefa importante e de grande visibilidade. Cabe a ele, por exemplo, decidir os assuntos que farão parte do espelho (material distribuído a toda a equipe com a ordem de entrada das matérias no telejornal, a previsão de chamadas, comerciais e encerramento) do JN, sempre levando ao ar o compromisso com o telespectador e o que de mais relevante acontecer naquele dia no Brasil e no mundo.
Líder de audiência no país, o Jornal Nacional é plural em seu público e tem a responsabilidade de mostrar aos telespectadores as notícias factuais do dia ou matérias especiais, que merecem ser desdobradas com mais tempo de duração, devido à sua importância histórica, cultural ou social. “O telespectador não sabe o que vai assistir no JN, mas sabe o que não vai ver”, afirmou Bonner, lembrando ainda que “a TV Globo é popular, mas não popularesca”.

Para que o JN cumpra sua missão de informar corretamente, a rotina de produção começa cedo com a ronda pelas principais praças geradoras de pautas, como Nova York, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, e as afiliadas da Globo. O fruto desse trabalho é um pré-relatório com o resumo dos assuntos selecionados. Ainda pela manhã, organiza-se uma reunião para apresentação desse material. Em seguida, o editor-chefe coordena uma videoconferência com os editores das principais praças, incluindo o Rio de Janeiro, e, a partir daí, elegem-se os assuntos que serão abordados na edição do dia e a ordem em que serão apresentados.

Segundo Bonner, é imprescindível confirmar todas as informações antes de irem ao ar. “É melhor assumir o furo do que dar a notícia sem provas, vindo a prejudicar as pessoas envolvidas.” Ele lembrou que mesmo quando o JN está no ar, fatos novos podem ser incorporados ao espelho conforme o grau de importância das notícias. As mudanças exigem do editor-chefe um olhar atento para o formato do texto. “Primeiro, queremos ser compreendidos. Para isso, precisamos ser claros; em segundo lugar, queremos a audiência da forma mais natural possível.” O editor somente interfere no texto do repórter se estiver dúbio, com eventual erro de português ou em forma inadequada para TV, como, por exemplo, orações intercaladas, que não devem ser utilizadas nos telejornais, pois dificultam a compreensão.

Ao assumir a bancada do telejornal junto com Fátima Bernardes, Bonner passou a adotar frases mais curtas para as manchetes, exercitando também a precisão de inserir breves imagens na escalada para despertar o interesse do telespectador, calculando as imagens frame a frame (fração de segundos em vídeo) e casando-as com o texto. “Tenho um relógio dentro de mim que me deixa seguro para apostar com qualquer colega que a escalada vai dar certo e que cada imagem selecionada vai ilustrar corretamente cada palavra”, brincou ele, que disse não abrir mão de fazer essa atividade até hoje.

Matéria sobre "Estudo de caso: jornalismo em televisão - USP", foi ao ar pelo jornalístico; Globo Universidade em 3 de março do ano passado.

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